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Dharamsala - A incrível cidade no norte da Índia e por que eu resolvi ir para lá


É engraçado como certas coisas pequenas podem ter um impacto tão grande na vida das pessoas.

Quando, em 2014, eu achei o livro “As Montanhas de Buda”, de Javier Moro, empoeirado em uma estante de casa, eu nunca imaginaria que essa seria uma delas.

O livro conta a história do Tibete, a qual até então eu não conhecia nada.

Quanto mais eu avançava no livro, mais incrédula eu ficava com a história desse país, me lembro de pensar o tempo inteiro: “Como eu nunca havia ouvido sobre o Tibete até agora?”.

Infelizmente, a história do Tibete é muito pouco conhecida mundialmente, o que é uma tristeza enorme, pois o país merece a atenção e a incredulidade de genocídios como, por exemplo, o Holocausto.

Contando muito resumidamente, o Tibete é um país asiático que sempre esteve afastado do resto do mundo, sempre foi subdesenvolvido, com grande parte de seus habitantes sendo fazendeiros nômades. Porém os tibetanos nunca pareceram se importar com isso; sendo um país budista, sua filosofia de vida nunca foi voltada ao desenvolvimento material ou à busca do poder, algo que o mundo ocidental busca ferozmente.

Mas tudo começou a mudar na vida dos tibetanos em 1949, quando o exército chinês de Mao Tse Tung invadiu o país e instaurou ali uma ditadura que os aterroriza até o dia de hoje.

Atualmente, existem mais chineses do que tibetanos no Tibete e, desde a invasão, mais de um milhão de tibetanos já morreram nas mãos do exército.

Pessoas são presas e torturadas por simples atitudes como carregar uma foto do Dalai Lama consigo ou hastear a bandeira tibetana. Os chineses fecharam 99% dos monastérios do país, sendo muitos deles arruinados, florestas inteiras foram derrubadas e escrituras religiosas antigas foram destruídas.

Escolas tibetanas foram destruídas e substituídas por escolas chinesas; onde os alunos não poderiam aprender o idioma tibetano. A história de seu país também seria completamente ignorada nessas escolas, dando lugar à história da China; assim, as crianças seriam ensinadas que a China fez um grande favor ao Tibete ao invadi-lo.

Graças a esses e demais motivos, hoje o Tibete é um dos dez países mais reprimidos do mundo.

É de fato difícil de acreditar que em pleno século XXI uma colonização como esse aconteça tão descaradamente. E que nenhum outro país esteja fazendo algo para reverter a situação.

Jornalistas e diplomatas são proibidos de entrar no Tibete e, caso algum turista queira conhecer o país, ele deve ser acompanhado o tempo todo por um guia chinês.

Para fugir das mãos dos chineses, muitos tibetanos buscam asilo político em outros países como Índia e Nepal. Porém, a trajetória não é nem um pouco fácil, em alguns casos chega a durar meses. Os refugiados têm que atravessar o Himalaia a pé, durante a noite, levando muito pouco além de suas lembranças e muitos já morreram de fome, frio ou foram pegos pela polícia.

A principal cidade que esses tibetanos se alojam é Dharamsala - mais especificamente Mcleod Ganj - no norte da Índia. E foi pra lá que eu resolvi ir depois de ler o livro de Javier Moro, para conhecer de perto a história desses refugiados. (Veja aqui algumas dicas para mulheres que vão sozinhas à Índia)

Eu sabia que queria fazer algum tipo de trabalho voluntário em Dharamsala, mas não sabia o que, como, nem aonde.

Comecei a procurar então algumas ONGs que oferecessem ajuda lá e encontrei a Lha Charitable Trust, organização que presta vários serviços gratuitos aos refugiados, um deles sendo aulas de inglês.

Entrei em contato com eles e com diversas pessoas que já haviam dado aula lá, para saber como funciona e se haviam gostado.

Estava decidido então, daria aula de inglês na Lha, para refugiados tibetanos.

McLeod Ganj me encantou. É uma cidade majoritariamente tibetana e budista, ou seja, parece mais que você está no Tibete do que na própria India. Centenas de monges andando pelas ruas, restaurantes tibetanos, feirinhas de artesanatos tibetanos, refugiados tibetanos em todos os lugares e por aí vai.

Lá, eu conheci as pessoas mais interessantes que eu já tive o prazer de conhecer; como, por exemplo, o monge tibetano Palden Gyatso.

Palden Gyatso foi preso no Tibete por participar de um protesto totalmente pacífico contra a ditadura chinesa. Ele ficou preso por 33 anos, sendo torturado regularmente.

Ao sair da prisão, ele conseguiu fugir para Dharamsala e hoje tem um livro e filme baseados na sua história.

Já faz 22 anos que Palden fugiu do Tibete. Mas mesmo depois de tanto tempo, Palden teve que parar de me contar sua história em alguns momentos para poder chorar.

A história de Palden não é uma história isolada. Eu conheci dezenas de pessoas com histórias semelhantes no meu tempo em Dharamsala.

Pessoas que foram presas e torturadas durante anos por terem participado de protestos totalmente pacíficos. Mães que tiveram que deixar seus filhos recém-nascidos para trás e nunca mais os verão. Mulheres que foram estupradas por soldados chineses, muitas vezes com bastões elétricos. Pessoas que passaram meses atravessando o Himalaia a pé para fugir da ditadura chinesa, e que perderam pernas, braços e dedos, por causa do frio. Pessoas que não falam com suas família há décadas. Crianças menores de 10 anos que foram mandadas para a Índia sozinhas e nunca mais verão seus familiares, e por aí vai.

Eu ainda me pergunto todos os dias por que o mundo inteiro não conhece a história do Tibete; afinal, ela não ficou no passado. Tudo isso continua acontecendo todos os dias lá dentro. Nesse exato momento, enquanto você lê esse texto, centenas de tibetanos estão atravessando o Himalaia a pé em busca da liberdade.

Se você se emocionou com a história desse país e quer fazer alguma coisa para ajudar, te peço que espalhe a mensagem deles.

Conte para o maior número de pessoas que puder sobre o Tibete, compartilhe esse texto.

O mundo precisa conhecer a história dessas pessoas.

Leia o livro Retratos de Resistência, feito a partir dos relatos escutados nessa minha viagem!

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