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Dói.


Dói saber que no mundo inteiro pessoas sofrem simplesmente por serem quem elas são.

Dói saber que em Serra Leoa meninos de 9 anos têm que se juntar ao exército após terem assistido toda sua família ser assassinada. Dói saber que na China meninas recém-nascidas são jogadas em lixões porque as famílias não querem mais mulheres. Dói saber que existem milhares de mães negras e periféricas que ficam preocupadas toda vez que seus filhos saem de casa, com medo de receber uma ligação dizendo que algum policial confundiu seu celular com uma arma, e que "foi em legítima defesa". Dói saber que gays são expulsos de casa pelos próprios pais por amarem quem eles supostamente não deveriam.

Por amar.

Dói saber que milhares de mulheres morrem ao tentarem abortar em clínicas clandestinas. E que, caso não abortem, terão que criar um filho sozinhas e sem condições financeiras, porque o pai fugiu.

Dói ver a sociedade as culpando por isso.

Dói saber que em Bangladesh crianças trabalham 12 horas por dia, ganhando U$2 para que nós no ocidente possamos pagar barato numa blusinha que achamos bonita. E que mesmo após tantos pedidos de socorro encontrados nessas roupas, nós continuemos comprando esses produtos. Dói caminhar pela cidade e ver dezenas de pessoas dormindo nas ruas. Dói ver pessoas engravatadas e de salto alto passando reto por essas pessoas, como se o sofrimento alheio já nos fosse tão comum que nem nos choca mais.

Nada mais nos choca. Dói ver quem se importa cada vez mais desanimado com a perspectiva futura.

Mas sabe o que dói mais?

Saber que existe gente que passa pela vida inteira sem nunca questionar essas injustiças. Sem nunca tentar fazer nada pra ajudar ninguém.

Não ta certo que o mundo inteiro ignore isso tudo. Que as pessoas consigam viver suas vidas, irem à parques, shoppings, restaurantes, festas sem que nada disso passe por suas cabeças. Não tá certo que alguém pague três mil reais por mês em uma escola particular, R$500 num jantar e R$650 numa peça de roupa enquanto tem gente literalmente morrendo de fome.

Vocês nunca se questionam isso?

Vocês já pelo menos tentaram fazer algo pra mudar?

Essas pessoas estão lá. Morrendo por serem quem são. E por terem nascido onde nasceram.

O mundo precisa de gente que levante a bunda do sofá e vá realmente fazer alguma coisa. De gente que se importa de verdade. De gente que vê o mundo além do próprio umbigo.

Tudo isso dói. Mas eu continuo aqui. Porque aceitar não é uma opção.

Ou pelo menos não deveria ser.


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