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Em outubro de 2020 eu recebi a proposta de entrevistar e fotografar vítimas da mineração no Brasil. Eu estava indo passar uns meses no Brasil e queria fazer algo parecido com o meu projeto na Índia com refugiados tibetanos, mas não sabia muito bem o que fazer, ou sobre o que falar - com tantas coisas acontecendo no meu país ultimamente o leque de pautas é grande. Até que chegou a mim uma proposta para falar sobre a ação da mineração no Brasil. Confesso que não sabia exatamente o que isso significava - sabia sobre Mariana e Brumadinho, já tinha ouvido falar sobre Carajás e me passavam pela cabeça algumas idéias vagas sobre o assunto, mas não sabia de fato o que esse tema englobava e quais eram os impactos dessa indústria para o meu país. Considerei o tema e comecei a ler e pesquisar mais sobre o assunto; quanto mais descobria, mais indignada ficava e mais continuava lendo a respeito.

Li sobre o impacto ambiental que essa indústria causa, sobre o impacto social e sobre todas as vidas que já foram perdidas nos processos de mineração no Brasil. Senti, em relação à essas empresas, algo parecido ao que senti em relação ao governo chinês quando estava na Índia: eu sou uma formiguinha comparada ao poder e influência que eles têm, e por mais que faça tudo o que está ao meu alcance contra essa indústria, nada do que eu faça jamais será suficiente para resolver o problema. Mas não conseguir fazer tudo nunca foi motivo para não fazer o pouco que posso - e esse é um lema que levo comigo há anos. Então resolvi fazer minha mala, carregar minha câmera e ir passar três dias em Brumadinho, com a engenheira ambiental e minha amiga pessoal Amanda Araújo, conversando e fotografando as vítimas do rompimento da barragem que aconteceu em janeiro de 2019. O material que a gente traz aqui é resultado de horas de entrevistas com pessoas que passaram por situações que ninguém no mundo deveria passar, as ouvimos chorar e se abrirem para nós sem nem nos conhecerem, nos ofereceram seu tempo, suas histórias, sua tristeza e sua raiva. Agradeço imensamente a cada pessoa que aceitou contar sua história à duas paulistas que chegaram em Brumadinho sem conhecer ninguém, batendo na porta das pessoas e prontas para ouvir o que elas tinham a dizer. Espero que o resultado dessas entrevistas atinja as expectativas dos entrevistados, que alcance pessoas tão interessadas quanto nós em escutar essas histórias e que ajude na luta de pessoas que não pedem nada mais nem nada a menos do que o direito à própria vida.

Então vamos começar pela parte que você já deve conhecer: 12h28 do dia 25 de janeiro de 2019, uma barragem que acumulava os rejeitos de uma mina de ferro se rompeu perto da cidade de Brumadinho, liberando dezenas de milhões de toneladas de lama e, como um tsunami de lixo tóxico, destruindo tudo o que via pela frente. A barragem pertencia à mineradora Vale e estava localizada acima do refeitório da empresa, causando a morte de 272 pessoas e se tornando o maior acidente de trabalho no Brasil em perda de vidas humanas, o segundo maior desastre industrial do século e colocando o Brasil em primeiro lugar na lista de países com maior número de mortes neste tipo de "acidente".

 

"Acidente", assim entre aspas mesmo porque a palavra certa seria crime, mas vamos chegar nisso jajá.

Brumadinho deixou 272 mortos, entre eles filhos, mães, pais, irmãos e amigos - dois desses sendo os filhos não nascidos de duas mães grávidas que se foram na tragédia. Cada uma dessas vítimas deixou outras dezenas de pessoas desamparadas, Brumadinho é pequena, isso significa uma cidade inteira em luto. As imagens da barragem rompendo correram todo o país naquela semana, ouvimos os números de mortos, de desaparecidos, vimos as entrevistas, as acusações. Mas, como sempre, a nossa memória ativou o modo segurança e a história foi aos poucos sendo esquecida e deixada de lado. Hoje, a tragédia de Brumadinho é considerada algo distante, que não nos causa mais tanta indignação ou tristeza. Infelizmente, quem passou pela tragédia carregará isso para sempre, e queremos aqui fazer jus à dor dessas pessoas, mostrar a elas que elas não foram esquecidas, que vamos continuar falando sobre Brumadinho e que, enquanto estivermos vivos, essa história continuará sendo lembrada. Queremos trazer aqui uma proposta diferente das reportagens feitas desde então sobre o rompimento da barragem, queremos contar a história pelas vozes de quem estava lá, de quem perdeu entes queridos, de quem adoeceu e de quem sobreviveu para contar.

 

Só eles realmente sabem pelo o que passaram, por isso acreditamos que são eles que devem contar essa história.

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Natália de Oliveira

Professora, nascida e criada em Brumadinho.

"Eu estava em casa em uma sexta-feira, assistindo uma série na Netflix e de repente começou a chegar mensagem em um grupo de Whatsapp e chegou uma mensagem falando 'a barragem caiu'. Eu encaminhei para a minha irmã que trabalha na Vale e continuei normal, só fui encaminhando as mensagens. A terceira mensagem que eu recebi falou que era no Córrego do Feijão aqui, aí eu mandei um áudio pra minha irmã no Whatsapp e naquele momento eu vi que as duas mensagens anteriores que eu tinha mandado ainda não tinham chegado para ela. Eu falei ‘Lé, me liga pelo amor de Deus’ e naquele momento já começou essa angústia. Eu liguei pros meninos da minha irmã, pro Luis Eduardo, meu sobrinho mais novo e falei ‘Vai pra Vale, pega o seu irmão e o carro e vai ver o que sua mãe tá precisando’. Desci a pé, passando pela rua e a sensação que eu tinha era de um filme de terror: as lojas estavam abaixando as portas, as pessoas jogando tudo no carro, saindo e falando que a barragem caiu e ia chegar em Brumadinho. Eu sei que saí correndo para ir pro centro e as pessoas que me conheciam berravam ‘Natália, não vai pro centro, volta, volta!’ e eu indo pro centro, as pontes estavam todas interditadas e o pessoal que estava lá falava que a barragem ia pegar tudo o que estava no meio do caminho. O centro de Brumadinho parecia um cenário de guerra. Achei melhor ir pra casa da minha mãe, alguém vai contar pra ela e ela tem 78 anos. Quando eu cheguei na minha mãe, ela já sabia, todo mundo já tinha falado, estavam mandando ligar a televisão e todo mundo naquela angústia. 

Desde aquele dia nós começamos a procurar pela minha irmã. A falta de notícias foi enorme, ela era uma pessoa muito conhecida aqui, muita gente ligando, querendo saber se alguém tinha alguma notícia dela e a gente não tinha nenhuma notícia pra dar. Eu lembro que eu consegui falar com a irmã do Betinho (funcionário da Vale que sobreviveu) e ele trabalhava na mesma sala que a minha irmã. E na hora que eu perguntei pra ela sobre o Betinho, ela disse ‘O Betinho já deu notícia, já atendeu o telefone, ele não consegue vir embora mas está bem’. E quando eu perguntei o que o Betinho tinha falado da Lé, ela não conseguiu responder, foi um silêncio tão profundo que eu entendi naquele momento que minha irmã tinha morrido.  E todo mundo na casa da minha mãe com aquela esperança, meu marido chegou e eu comecei a chorar que nem uma louca falando ‘A Lecilda morreu, a Lecilda está morta’. Ele perguntou quem tinha confirmado isso e eu falei: 

 

O silêncio. "

 

Lecilda, irmã de Natália, é uma das 10 pessoas que seguem desaparecidas até hoje, sua família nunca realmente teve a confirmação de seu falecimento.

"Todo mundo que vocês conversarem aqui vai ter história, todo mundo perdeu um amigo, perdeu um parente. Eu, de amigos que eu tinha convivência diária, eu perdi pelo menos 10, fora os outros que você vai jogar bola num fim de semana, vai numa festa e tal. Foram uns 150 entre amigos, conhecidos, parentes.

E a sensação de você enterrar um amigo seu de manhã, outro de tarde, e de noite chegar mais um pra enterrar no outro dia?

Foi isso que a gente viveu."

- Breno Renato Coelho
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"Tenho um rapazinho de 6 anos e uma filha de 12. E pra explicar pra eles? Até hoje qualquer chuva que dá, qualquer barulhinho, eles passam mal.

Aqui muita gente foi enterrada uma perna, um pé, ombro. Nós ficamos ali e chegava o tempo todo helicóptero com a rede cheia de pedaço de corpo. Trazia e colocava no campo de futebol ali ó. E você via lá no chão cabeça, perna, pé, tudo pedaço de corpo cheio de barro. Foi uma loucura.

 

Todo mundo aqui faz tratamento com psicólogo hoje, meus dois filhos fazem, seis e doze anos.

Só naquela rua ali, naquele pedaço da minha casa morreu o primo da minha esposa né, que era amigo da gente, a vizinha da frente e a outra de cima. Só naquele pedacinho. Então assim, foi realmente um pesadelo e isso aqui ficou abandonado, esqueceram. Aquela mídia toda, aquilo tudo deu só no início, depois esquecem."

- Alessandro de Jesus Alves
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Clique play para ouvir parte do áudio de Alessandro
"Pra eles são só números. Não é o Seu João, a Dona Maria.
É bizarro mas essa é a lógica"
- Marcelo, ativista pelo MAM

"Ninguém nunca bateu aqui pra falar com a gente, para ver o que a gente precisa, como a gente está. Aquelas propagandas da Vale é tudo hipocrisia, muita falsidade, muita mentira. Pode perguntar de casa em casa pra você ver, nunca que eles passaram aqui, não veio ninguém. O único suporte que a gente tem da Vale é a água e esse emergencial que eles pagam para toda a região.

Apoio psicológico? Psiquiatra fui eu que fui atrás e eu que pago. A Vale não quer nem saber. A Vale não é nada do que eles falam na televisão por aí, a gente que vive aqui que sabe [...] ninguém faz nada pra favorecer a gente.

A água foi afetada né, eles dão água mineral para a gente toda semana. Mas pra tomar banho, escovar os dentes e cozinhar é a água contaminada que a gente usa. A gente tem medo, não se sente confortável, mas vai fazer o que, né?"

- Alessandro de Jesus Alves
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Rio Paraopeba

O rompimento da barragem afetou também o Rio Paraopeba, que foi tomado pelo tsunami de lama e de lixo tóxico, causando sua morte. A equipe do SOS Mata Atlântica recentemente analisou a situação do rio dois anos após a tragédia e detectou a presença de ferro, manganês e cobre em níveis muito acima dos limites máximos aceitos pela legislação. As cidades ao redor do Rio Paraopeba, antes do rompimento da barragem, eram abastecidas com a água do rio e hoje a Vale disponibiliza água potável para todos os moradores da região, para que eles não bebam a água contaminada do Paraopeba. Porém, é essa água que os moradores continuam utilizando para cozinhar, tomar banho e escovar os dentes. Coincidentemente ou não, desde então casos de várias doenças começaram a aparecer nos habitantes da região. “Diversas pessoas já relataram manchas pelo corpo, contaminação estomacal por bactérias e coceira quando tomam banho. De dezembro para cá, boa parte da comunidade sofreu com diarreia, vômito e dores abdominais fortes”, relatou um morador da região para o G1.

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Marcelo e Sara

Ativistas pelo MAM (Movimento Pela Soberania Popular na Mineração )

"Problemas respiratórios, problemas de pele, depressão, surto de dengue como nunca antes: essas pessoas não contam como atingidas pelo rompimento mas são coisas que nunca tinham acontecido antes. Desestruturou o ecossistema todo da região.

 

Tem coisa que a gente só vai conseguir mensurar como impacto daqui a 20, 30 anos quando a gente ver o desequilíbrio no ecossistema."

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A Dona Ana estava nos contando que vocês sentiram muita diferença na saúde das pessoas aqui desde que a barragem rompeu.

 

"Drasticamente. Esse metal pesado, nós estamos inalando ele, você nem sente mas estamos. Na irrigação das plantas é iminente. Vimos bastante. Vias respiratória é demais. Nós sofremos muito com isso. 

Tiveram pessoas com bastante ferida. Mesmo se a pessoa não tem contato direto com a água, ela inala e é afetada de qualquer jeito."

- Rogério Gregorio da Silva
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Rogério Gregório da Silva

Coordenador do setor da saúde do acampamento Pátria Livre, às margens do Rio Paraopeba

"Olha a situação que ficou a perna da moça. Encaminhamos ela pro dermatologista clínico e chegou a conclusão que foi por metal pesado."

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"Como você vai explicar pra uma criança que o pai dela morreu por decisões irresponsáveis de pessoas alheias? Porque não foi acidente, eles sabiam do risco que corria.

Ó, as histórias são sinistras, a imprensa não fala. Do grau de responsabilidade das pessoas de continuar com todo o complexo sabendo dos riscos."

- Breno Renato Coelho

MAS A VALE REALMENTE SABIA?

Algo que ouvimos de praticamente todas as pessoas que entrevistávamos em Brumadinho era que a Vale sabia que a barragem estava para romper a qualquer momento, mas deliberadamente escolheu não fazer nada a respeito e colocar centenas de vidas em risco.

 

Antes de entrar de cabeça nesse assunto, vou entrar um pouco no lado técnico e histórico da coisa aqui, prometo que vai ser rápido: como já sabemos a mineração consiste, entre outras coisas, na exploração de minérios presentes no subsolo. O Brasil é considerado um dos países com maior potencial mineral do mundo, e não é por coincidência que a história do país com a mineração é tão antiga: vem desde quando os portugueses estavam aqui em busca do ouro no interior do país. Temos, no Brasil, milhares de minas, a maioria delas localizadas em Minas Gerais - pois é, o nome do estado não é à toa. Desde que os portugueses descobriram as riquezas que tínhamos sob o nosso solo, a mineração se tornou a base da economia local de MG, e é graças à mineração que temos computadores, cosméticos, estradas, estruturas metálicas, entre muitas outras coisas.

No processo de extrair o minério do subsolo, precisamos armazenar os rejeitos em algum lugar, e é para isso que servem as barragens. Existem várias formas e modelos diferentes de se construir barragens, a barragem que se rompeu em Brumadinho, na Mina Córrego do Feijão, era de um modelo chamado alteamento a montante, é como se fosse um lago de lama e lixo tóxico que cresce verticalmente. De todos os diferentes modelos de barragem que existem esse é o mais perigoso, o que tem mais chances de romper.

 

Mas é também o mais barato.

 

Ainda usado no Brasil, esse modelo de barragem ja foi banido em diversos países exatamente por questões de segurança. A barragem de Brumadinho, inclusive, estava já em situação de risco, e é aqui que a coisa fica ainda mais feia:

 

No ano anterior ao rompimento, a Vale contratou uma empresa terceirizada - a Tractebel - para fiscalizar a barragem, checar se estava tudo em ordem. No resultado da inspeção a Tractebel concluiu que a barragem não era segura, que mudanças deveriam ser feitas. A Vale então os demitiu e contratou uma segunda empresa para refazer a inspeção, a Tuv Sud, e eles então disseram que a barragem era segura.

 

Calma, tem mais. Antes do rompimento a Vale também havia produzido seu próprio relatório de risco financeiro, que apontava um risco de rompimento da barragem maior do que o aceitável, estimando um custo para a companhia de U$1.5bi. Ou seja, eles não só sabiam que a barragem estava em risco como também calcularam qual seria o custo para a empresa caso ela rompesse, e chegaram à conclusão que sairia mais barato a barragem romper, do que consertá-la.

 

Quando nos perguntamos se a tragédia poderia ter sido prevista, precisamos saber que não só poderia, como estava prevista, e existem documentos que comprovam isso. Mas nesse país as mineradoras têm poder demais, elas investem no poder legislativo e executivo, pagam campanhas para políticos, dominam o poder público, ou seja, no país que é terra de ninguém, são elas que fazem as leis.

 

É o poder econômico se colocando acima do poder político, e da vida humana.

 

O intuito desse trabalho não é ir contra a mineração, não se pode negar que a mineração é sim indispensável para o nosso desenvolvimento socioeconômico. O intuito é refletir sobre como ela está sendo feita, as perguntas que ficam aqui são: Estamos tomando os cuidados necessários? Estamos colocando a vida e o meio ambiente como prioridades? Os benefícios que recebemos da mineração, como país, são maiores que as adversidades?

"Os números estão contra nós, mas a gente não aceita falar que tem ninguém desaparecido, porque eles estavam lá. A notícia que eu tenho da minha irmã é que ela estava no restaurante, almoçando, e ela saiu pra trabalhar e não voltou. Ela está fazendo em torno de 16 mil horas extras."

- Natália de Oliveira
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"Nós vamos acordar todos os dias sem eles e vamos dormir sem eles. A Dona Arlete fala que a gente dorme pra esquecer e acordamos pra viver o pesadelo. Todos os momentos bons e ruins, minha irmã estava ali. Eu nunca tinha imaginado um dia da minha vida sem a minha irmã. Ela tinha saúde, não bebia, não fumava, era certinha, parecia que ela ia ter a vida eterna. É muito sofrido porque ela faz muita falta. Eu quero que o mundo inteiro saiba.

 

Eu estou pela Lecilda, mas estou também pela Eva que é a mãe do Renato, pelo Luciano pai da Natália, eu estou pelos pais da Juliana que também não foi encontrada, estou pelo Seu João Miguel pai do Luís, e pelos demais familiares de todas as joias que ainda não foram encontradas, pra mim todos estão no meu coração. Ninguém quer ter um familiar que foi abandonado. A gente representa os familiares que não conseguem estar na reunião, que não conseguem falar. É muito difícil mas o que eu falo pra todo mundo é: eu não vou calar, não vou parar, eu vou até onde eu tiver conta de ir."

Natália de Oliveira

"A mineração hoje não está voltada para atender as demandas da sociedade. Por exemplo, hoje a gente minera muito mais do que de fato a gente precisaria, essa é uma primeira coisa. Para a China que é a principal compradora, hoje a Vale está vendendo e a China está estocando, porque o preço está viável agora, vai que sobe? Ou seja, não é minerar para atender uma necessidade imediata da população. Outra coisa é: O que que isso tem deixado pra a gente em termos de retorno social? O minério é nosso, é da população brasileira. É o nosso chão, literalmente o nosso chão, que está sendo levado pra China e pros EUA. E o que está ficando pra a gente? Nada. 

E outra coisa também é que mesmo que a gente não consiga viver sem a mineração a gente tem que entender que tem áreas que têm que ser livres de mineração, não é qualquer lugar que pode ser minerado. A gente tem que estabelecer critérios ambientais e sociais de que existem territórios que não podem ter mineração. Não pode ter mineração em terra indígena, não pode ter mineração perto de áreas de quilombolas, perto de grandes bacias hidrográficas, perto de cidades."

- Marcelo, ativista pelo MAM
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"Uma outra luta é acabar com a lei Kandir, que diz que todo produto primário que é destinado pra exportação é isento de ICMS, que é o imposto em cima da mercadoria. O que isso tem a ver com a mineração? O minério é considerado um produto primário, quando eles são exportados praticamente o Estado não arrecada nada, não volta dinheiro nenhum."

- Sara, ativista pelo MAM

 "Se a gente fosse um país sério né, depois de romper Brumadinho a gente daria uma parada nesse processo da mineração e ia rever as coisas. Aqui não, a gente teve 595 processos novos, aumentou. E o preço do minério de ferro em janeiro, quando a barragem rompeu, estava por volta de U$72 a tonelada e fechou o ano passado com U$96. Ou seja, eles estão lucrando. Com o valor de mercado da Vale na Bovespa em outubro do ano passado, poucos meses depois do rompimento, ela já tinha conseguido recuperar o prejuízo que ela tinha tido quando rompeu. Então, eles estão ganhando pra caramba em cima."

- Marcelo, ativista pelo MAM

E O QUE TEM SIDO FEITO ATÉ AGORA?

Já vimos aqui que a Vale entrega água mineral para todos os habitantes da região, a empresa também paga um salário mínimo mensal para cada um dos moradores de toda a área afetada. A questão das indenizações às famílias é um pouco mais complexa, a Vale ofereceu de R$150mil a R$850mil aos familiares , dependendo do grau de parentesco, alguns aceitaram enquanto outros decidiram entrar com ações contra a empresa pedindo indenizações maiores, então cada caso é um caso. Recentemente, O TRT da 3ª Região condenou a mineradora Vale à pagar R$ 1 milhão de indenização por danos morais por cada trabalhador morto no rompimento da barragem.

Além do que já foi mencionado, no começo do ano a Vale e o governo de Minas também fecharam um acordo onde a Vale pagaria R$ 37,68 bilhões para reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem, porém, grande parte dessa multa irá para melhorias no metrô e para construção de um rodoanel em Belo Horizonte, ou seja, nem todo o dinheiro será realmente destinado à cidade de Brumadinho e vai acabar caindo na mão de políticos oportunistas.

Vale mencionar aqui que a Vale é a empresa mais valiosa da América Latina - valendo US$ 103,8 bilhões no dia 27 de abril de 2021 – e a segunda maior mineradora do mundo, atrás apenas da australiana BHP Billiton. Apenas um ano após a tragédia de Brumadinho, a Vale recuperou o valor de mercado que tinha anteriormente e voltou a lucrar.

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Também menos de um ano após o desastre, a Vale anunciou que iria pagar R$ 7,25 bilhões de lucros e dividendos a seus acionistas - o valor é mais que o dobro do que os R$ 2,8 bilhões que a mineradora afirmou até então ter gasto com indenizações, doações e auxílios-emergenciais. Logo após o desastre de Mariana, por exemplo, a Vale pagou U$25 milhões para investidores nos EUA que entraram em ação judicial por conta dos prejuízos do rompimento da barragem. Os diretores da Vale - entre eles quatro executivos que desempenhavam função de direção na época e que foram indiciados por homicídio duplamente qualificado - receberam R$19 milhões por seu desempenho em 2019, ano da tragédia.

 

Ouvir esses números em dólares e milhões sendo pagos para acionistas gringos e sendo investidos em rodoaneis e saber que a indenização por trabalhador morto é de apenas R$ 1 milhão é de revirar o estômago. É revoltante ver mães, pais, filhos, irmãos e esposas de vítimas tendo que brigar na justiça por indenizações minimamente dignas, tendo que continuar trabalhando para sobreviver mesmo depois de seus familiares terem sido mortos da forma que foram, enquanto a empresa responsável continua lucrando bilhões de dólares.

A ANM (Agência Nacional de Mineração), que é o órgão que fiscaliza as barragens no Brasil, pede uma declaração de estabilidade para controle de segurança das barragens, porém, essa declaração de estabilidade deve ser feita por auditoria terceirizada contratada pela própria empresa, da mesma forma que a própria Vale contratou a Tractebel, e depois a Tuv Sud; ou seja, o risco de corrupção e fraude já começa por aqui. Além disso, estudos ranquearam os orgãos nacionais com maior risco de se envolverem em fraudes e esquemas de corrupção, e a própria ANM está em segundo lugar na lista.

 

Enquanto isso, enquanto você lê essa matéria, Minas Gerais continua tendo mais de 400 minas abandonadas, muitas consideradas “bomba-relógio”, e a Vale continua sendo a dona da maioria das barragens de mineração interditadas no país. Pessoas que moram perto dessas barragens em risco relatam que se sentem perto de um vulcão ativo, que pode explodir a qualquer momento, e provavelmente vai. Não é uma questão de se Brumadinho vai acontecer novamente em um futuro recente, mas de quando.

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Anastacia do Carmo Silva

Cleiton Luiz Moreira Silva, seu filho, foi uma das vítimas do rompimento da barragem

"Eu sempre estive aberta a dar entrevista e eu sempre falei porque [...] meu filho não tem mais jeito né, só que às vezes a minha fala pode ficar para outras mães ou outras pessoas que passem pelo o que eu estou passando, e com o mundo sabendo talvez tomem alguma providência para que não aconteça mais esse tipo de coisa; e, de certa forma, eu sou a voz do meu filho e de outros que não tem mais o direito de falar. Então eu procuro expressar o que o meu filho expressaria. A tristeza de ver a impunidade e de saber que quem tem dinheiro mata e simplesmente não acontece nada. 

 

Então é uma sensação de ódio, de raiva, por que? Não foi acidente. Se fosse acidente eu ia sofrer demais também porém não foi acidente, foi homicídio. E assim, ninguém é preso, ninguém é indiciado, é indiciado a nada, recebendo participação nos lucros, recebendo dinheiro. E nós que somos familiares recebemos essas migalhas; eu, inclusive, não recebi nada. [A Vale] nos humilha matando nosso familiar e ainda nos humilha mais ainda nos pagando essa miséria sendo que lá nos EUA os acionistas ganharam 25 milhões, não sei quem ganhou 12 milhões pra compensar esse acidente. E nós? Que somos família, que perdemos nossos familiares, nunca mais vamos ter nosso familiar. A vida do nosso familiar que realmente deu o sangue pra aquela empresa, literalmente, não vale nada. Então essa empresa nos humilha a todo momento. Não é que o dinheiro vá trazer nosso familiar de volta, mas por exemplo eu, eu fiquei um ano e meio sem conseguir trabalhar, tive que voltar a trabalhar por situação financeira.

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Clique play para ouvir parte do áudio de Anastacia

A Vale sempre pregou pro mundo: 'Segurança e a vida em primeiro lugar'. É tudo mentira, a segurança e a vida nunca foram primeiro lugar, para ela o que importa é o dinheiro, é o lucro, é só isso. Os funcionários pra ela não importam nada. Hoje morre 272, amanhã tem 500 para trabalhar. Pra essas empresas grandes matar é como se a gente matasse uma formiga, você entendeu? A tristeza que eu tenho de pensar nesses diretores sabendo de todos os riscos, e os funcionários trabalhando inocentemente sem saber que a qualquer momento aquele tsunami de lama ia acabar com todo mundo, igual ao meu filho. Meu filho foi politraumatismo contuso, meu filho foi identificado pelo meu DNA, sabe o que é não ter uma mão do seu filho intacta pra você ver? Então assim, pra uma mãe é pesado demais, perder um filho e ainda nessas condições, nessa humilhação. Aquelas pessoas foram embora na mais completa humilhação. 

 

Eu sou o grão de areia no sapato da Vale, mas ela é a faca fincada no meu peito"

272 pessoas assassinadas, uma região inteira abalada, um ecossistema destruído e consequências que só vão realmente poder ser mensuradas nas próximas décadas. De tudo que foi abordado até aqui sobre a natureza dessa tragédia, que pelo menos uma fique clara: essa não é uma história sobre um acidente industrial. Não foi acidente. Essa é uma história sobre a negligência de uma empresa com a vida. É uma história sobre como o poder econômico fala mais alto, sobre o descuido do ser humano com nossos recursos naturais, sobre o descaso da Vale com toda a dor que ela causou e vem causando há anos.

Como a Natália, nós também não podemos parar de falar sobre o que aconteceu e, como a Anastacia, podemos ser apenas grãos de areia no sapato da Vale, mas que lutando e passando essa história adiante possamos criar mais consciência e tentar prevenir que volte a acontecer.

 

Nós não vamos esquecer. O Brasil não pode esquecer de Brumadinho.

Adail dos Santos Junior

Adair Custodio Rodrigues

Ademário Bispo

Adilson Saturnino de Souza

Adnilson da Silva do Nascimento

Adriano Aguiar Lamounier

Adriano Caldeira do Amaral

Adriano Gonçalves dos Anjos

Adriano Junio Braga

Adriano Ribeiro da Silva

Adriano Wagner da Cruz de Oliveira

Alaércio Lucio Ferreira

Alano Reis Teixeira

Alex Mário Moraes Bispo

Alex Rafael Piedade

Alexis Adriano da Silva

Alexis Cesar Jesus Costa

Alisson Martins de Souza

Alisson Pessoa Damasceno

Amanda de Araújo Silva

Amarina de Lourdes Ferreira

Amauri Geraldo da Cruz

Anailde Souza Pereira

Anderson Luiz da Silva

André Luiz Almeida Santos

Andrea Ferreira Lima

Angélica Aparecida Ávila

Angelita Cristiane Freitas de Assis

Angelo Gabriel da Silva Lemos

Anízio Coelho dos Santos

Antonio Fernandes Ribas

Armando da Silva Roggi Grissi

Aroldo Ferreira de Oliveira

Bruna Lelis de Campos

Bruno Eduardo Gomes

Bruno Rocha Rodrigues

Camila Aparecida da Fonseca Silva

Camila Santos de Faria

Camila Taliberti Ribeiro da Silva

Camilo de Lelis do Amaral

Carla Borges Pereira

Carlos Augusto dos Santos Pereira

Carlos Eduardo de Souza

Carlos Eduardo Faria

Carlos Henrique de Faria

Carlos Roberto da Silva

Carlos Roberto da Silveira

Carlos Roberto Deusdedit

Carlos Roberto Pereira

Cassia Regina Santos Souza

Cassio Cruz Silva Pereira

Cláudio José Dias Resende

Claudio Leandro Rodrigues Martins

Claudio Marcio dos Santos

Claudio Pereira Silva

Cleidson Aparecido Moreira

Cleiton Luiz Moreira Silva

Cleosane Coelho Mascarenhas

Cristiane Antunes Campos

Cristiano Braz Dias

Cristiano Jorge Dias

Cristiano Serafim Ferreira

Cristiano Vinicius Oliveira de Almeida

Cristina Paula da Cruz Araújo

Daiana Caroline Silva Santos

Daniel Guimaraes Almeida Abdalla

Daniel Muniz Veloso

David Marlon Gomes Santana

Davyson Christhian Neves

Denilson Rodrigues

Dennis Augusto da Silva

Diego Antonio de Oliveira

Diomar Custódia dos Santos Silva

Dirce Dias Barbosa

Djener Paulo Las-Casas Melo

Duane Moreira de Souza

Edeni do Nascimento

Edgar Carvalho Santos

Edimar da Conceição de Melo Sales

Edionio José dos Reis

Edirley Antonio Campos

Ednilson dos Santos Cruz

Edson Rodrigues dos Santos

Edymayra Samara Rodrigues Coelho

Egilson Pereira de Almeida

Eliandro Batista de Passos

Eliane de Oliveira Melo

Eliane Nunes Passos

Eliveltom Mendes Santos

Elizabete de Oliveira Espindola Reis

Elizeu Caranjo de Freitas

Elis Marina da Costa

Emerson Jose da Silva Augusto

Eridio Dias

Eudes José de Souza Cardoso

Eva Maria de Matos

Evandro Luiz dos Santos

Everton Guilherme Ferreira Gomes

Everton Lopes Ferreira

Fabricio Henriques da Silva

Fabricio Lucio Faria

Fauller Douglas da Silva Miranda

Felipe José de Oliveira Almeida

Fernanda Batista do Nascimento

Fernanda Cristhiane da Silva

Fernanda Damian de Almeida

Flaviano Fialho

Francis Erick Soares

Francis Marques da Silva

George Conceição de Oliveira

Geraldo de Medeiro Filho

Gilmar José da Silva

Giovani Paulo da Costa

Gisele Moreira da Cunha

Gislene Conceição Amaral

Glayson Leandro da Silva

Gustavo Andrie Xavier

Gustavo Sousa Júnior

Heitor Prates Máximo da Cunha

Helbert Vilhena Santos

Hermínio Ribeiro Lima Filho

Hernane Junior Morais Elias

Hugo Maxs Barbosa

Icaro Douglas Alves

Izabela Barroso Camara Pinto

Janice Helena do Nascimento

Jhobert Donanne Gonçalves Mendes

João Marcos Ferreira da Silva

João Paulo Altino

João Paulo de Almeida Borges

João Paulo Ferreira Amorim Valadão

João Paulo Pizzani Valadares Mattar

João Tomaz de Oliveira

Joiciane de Fátima dos Santos

Jonatas Lima Nascimento

Jonis André Nunes

Jorge Luiz Ferreira

José Carlos Domeneguete

Josiane de Souza Santos

Josué Oliveira da Silva

Juliana Creizimar de Resende Silva

Juliana Esteves da Cruz Aguiar

Juliana Parreiras Lopes

Julio Cesar Teixeira Santiago

Jussara Ferreira dos Passos Silva

Kátia Aparecida da Silva

Kátia Gisele Mendes

Lays Gabrielle de Souza Soares

Leandro Antônio Silva

Leandro Rodrigues da Conceição

Lecilda de Oliveira

Lenilda Cavalcante Andrade

Lenilda Martins Cardoso Diniz

Leonardo Alves Diniz

Leonardo da Silva Godoy

Leonardo Pires de Souza

Letícia Mara Anízio de Almeida

Letícia Rosa Ferreira Arrudas

Levi Gonçalves da Silva

Lourival Dias da Rocha

Luciana Ferreira Alves

Luciano de Almeida Rocha

Lucio Rodrigues Mendanha

Luis Felipe Alves

Luis Paulo Caetano

Luiz Carlos Silva Reis

Luiz Cordeiro Pereira

Luiz de Oliveira Silva

Luiz Taliberti Ribeiro da Silva

Manoel Messias Sousa Araújo

Marcelle Porto Cangussu

Marcelo Alves de Oliveira

Marciano de Araujo Severino

Marciel de Oliveira Arantes

Marciléia da Silva Prado

Márcio Coelho Barbosa Mascarenhas

Márcio de Freitas Grilo

Márcio Flávio da Silva

Márcio Flávio da Silveira Filho

Marcio Paulo Barbosa Pena Mascarenhas

Marco Aurélio Santos Barcelos

Marcus Tadeu Ventura do Carmo

Maria de Lurdes da Costa Bueno

Marlon Rodrigues Gonçalves

Martinho Ribas

Maurício Lauro de Lemos

Max Elias de Medeiros

Milton Xisto de Jesus

Miraceibel Rosa

Miramar Antonio Sobrinho

Moisés Moreira de Sales

Natalia Fernanda da Silva Andrade

Nathalia de Oliveira Porto Araujo

Nilson Dilermando Pinto

Ninrode de Brito Nascimento

Noé Sanção Rodrigues

Noel Borges

Olavo Henrique Coelho

Olímpio Gomes Pinto

Pâmela Prates da Cunha

Paulo Geovane dos Santos

Paulo Natanael de Oliveira

Pedro Bernardino de Sena

Peterson Firmino Nunes Ribeiro

Priscila Elen Silva

Rafael Mateus de Oliveira

Ramon Junior Pinto

Rangel do Carmo Januário

Reginaldo da Silva

Reinaldo Fernandes Guimarães

Reinaldo Gonçalves

Reinaldo Simão de Oliveira

Renato Eustáquio de Sousa

Renato Rodrigues da Silva

Renato Rodrigues Maia

Renato Vieira Caldeira

Renildo Aparecido do Nascimento

Ricardo Eduardo da Silva

Ricardo Henrique Veppo Lara

Robert Ruan Teodoro

Robson Máximo Gonçalves

Rodney Sander Paulino de Oliveira

Rodrigo Henrique de Oliveira

Rodrigo Miranda dos Santos

Rodrigo Monteiro Costa

Rogerio Antonio dos Santos

Roliston Teds Pereira

Ronnie Von Olair da Costa

Rosaria Dias da Cunha

Roselia Alves Rodrigues Silva

Rosiane Sales Souza Ferreira

Rosilene Ozorio Pizzani Mattar

Ruberlan Antonio Sobrinho

Samara Cristina dos Santos Souza

Samuel da Silva Barbosa

Sandro Andrade Goncalves

Sebastião Divino Santana

Sérgio Carlos Rodrigues

Sirlei de Brito Ribeiro

Sueli de Fátima Marcos

Thiago Leandro Valentim

Thiago Mateus Costa

Tiago Augusto Favarini

Tiago Barbosa da Silva

Tiago Coutinho do Carmo

Tiago Tadeu Mendes da Silva

Uberlândio Antônio da Silva

Vagner Nascimento da Silva

Valdeci de Sousa Medeiros

Vinicius Henrique Leite Ferreira

Wagner Valmir Miranda

Walaci Junhior Candido da Silva

Walisson Eduardo da Paixão

Wanderson Carlos Pereira

Wanderson de Oliveira Valeriano

Wanderson Paulo da Silva

Wanderson Soares Mota

Warley Gomes Marques

Warley Lopes Moreira

Weberth Ferreira Sabino

Wellington Alvarenga Benigno

Wellington Campos Rodrigues

Wenderson Ferreira Passos

Weslei Antonio Belo

Wesley Antonio das Chagas

Wesley Eduardo de Assis

Willian Jorge Felizardo Alves

Wilson José da Silva

Wiryslan Vinicius Andrade de Souza

Zilber Lage de Oliveira

Esse é um projeto completamente independente e sem fins lucrativos. Toda a reportagem, as fotografias e o layout foram realizados por Amanda Areias e Amanda Araújo.

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