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A verdade que ninguém te conta sobre viajar sozinha sendo mulher


Quem me conhece sabe que eu amo viajar; e amo mais ainda viajar sozinha. Ter a liberdade de fazer o que você quer a hora que quiser, ter mais facilidade de conhecer pessoas novas, aprender que você é capaz de muito mais do que você imaginava, se conhecer melhor são só alguns dos motivos de por quê eu amar conhecer o mundo apenas com a minha própria companhia.

Porém, como nada no mundo tem só o seu lado bom: viajar sozinha também não foge disso.

Por sermos mulheres, sempre vamos estar mais sujeitas à perigos, e na estrada a história não é diferente.

Ao viajar sozinha sendo mulher, você precisa sempre prestar o dobro de atenção em tudo: com quem você fala, nos convites que te fazem, no caminho que o taxista está fazendo, nas pessoas que estão dividindo o quarto do hostel com você, na fechadura do banheiro para ver se realmente tranca e por aí vai.

Além de todo o assédio que sofremos no dia-a-dia por estarmos sozinhas - principalmente em países menos desenvolvidos.

A gente sofre tanto assédio que nem conta mais. Em todo lugar.

Na Índia eu falava pra todo mundo que eu era casada. Eu voltava pro hostel todos os dias antes das 18h. Antes de entrar num taxi eu tirava foto da placa, fingia que estava ligando pro meu suposto marido e falava, em inglês, “amor, to indo já, a placa do taxi é tal, chego aí em uns 20min"; além de ficar o tempo inteira atenta no gps para ter certeza que o motorista estava me levando para o lugar certo.

Homem passa por isso?

Homem entra no taxi, fala pra onde vai e dorme durante o percurso, sem problema nenhum.

Nosso maior medo diário não é que nos roubem a carteira e o passaporte. Aliás, se alguém nos abordar de forma violenta, a gente torce para que seja só a carteira e passaporte que ele quer.

Eu, particularmente, já passei por umas boas dores de cabeça viajando por aí.

Certa vez, em Nova Delhi, fui seguida por um homem por alguns quarteirões. Comecei a fazer uns caminhos nada a ver, dava mais de uma volta no mesmo quarteirão, ia e voltava pro mesmo lugar, só pra ter certeza que não era paranóia minha. Foi quando eu sentei num banco e o homem ficou uns 20 metros atrás de mim, parado me olhando, que me bateu o desespero e eu tive coragem de virar e gritar pra ele ir embora - no meio de uma praça pública. Só assim ele foi embora.

Em uma viagem de ônibus pelo interior da Turquia, já briguei com dois locais pois eles estavam faltando com respeito comigo. O motorista do ônibus ficou do lado deles.

E isso não acontece só em lugares subdesenvolvidos não, a única vez que me tocaram de fato sem a minha permissão foi na Dinamarca, um dos países mais avançados do mundo. Um dia, voltando de madrugada sozinha no ônibus, sentada do lado da janela, um menino - loiro, branco, olho claro, dinamarquês - colocou a mão na minha perna diversas vezes mesmo eu mandando ele parar. Só parou quando eu gritei que ele não tinha esse direito e o ônibus inteiro olhou pra ele. Quem que saiu do ônibus antes do ponto morrendo de vergonha? Isso mesmo, eu. Não ele.

Essas histórias me lembram constantemente o tipo de violência que podemos sofrer lá fora. Mas onde eu quero chegar com esses relatos? A minha vontade não é desencorajar ninguém; muito pelo contrário, a minha maior vontade com esse blog é mostrar pras mulheres que a gente consegue sair por esse mundão afora sem precisar de ninguém ao nosso lado.

Mas também é importante contar esse outro lado, para que ninguém ache que é só comprar a passagem, pegar a mochila e ir. Sem nenhuma preocupação na vida. E sem nenhum cuidado especial.

A gente precisa ficar atenta o tempo todo.

Quer viajar sozinha? Vai. Vai de cabeça e coração abertos. Não precisa ficar com medo de tudo.

Mas fique esperta, preste atenção nos sinais. Não é tão difícil aprender a ler as intenções das pessoas. E, o principal: ajude outras mulheres que também estão sozinhas na estrada.

Juntas somos mais fortes.


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